Fengicina: 21 vezes mais caro que o ouro
Updated: Apr 17
A bioeconomia é uma ciência que se preocupa com o uso dos recursos naturais para produção de bens e serviços de uma maneira mais sustentável e traz consigo muitas oportunidades de desenvolvimento e inovação em conjunto com a biotecnologia, com o intuito de atender as necessidades da indústria e, consequentemente, da sociedade.
Sabendo que esse modelo pressupõe a substituição de produtos que prejudicam o meio ambiente – e que são, até mesmo, nocivos à saúde humana – por produtos cada vez mais sustentáveis, não tóxicos, não prejudiciais ao bem-estar das pessoas. Uma vez que a bioeconomia tem como finalidade desenvolver soluções biológicas sustentáveis, traz-se neste artigo um exemplo de solução, o fengycin, ou fengicina, um antifúngico, gerado pelo microrganismo Bacillus subtilis, que pode produzir biossurfactantes, uma possível alternativa aos surfactantes sintéticos, elementos muito utilizados em diversos ramos da indústria, que oferecem riscos à saúde humana e ao ecossistema.
O que é fengicina?
O fengicina é um lipopeptídeo, que é produzido por uma bactéria chamada Bacillus subtilis, comumente encontrada no solo e em ambientes aquáticos. Os lipopeptídeos, em geral, são bastante utilizados como biossurfactantes nas indústrias alimentícia, farmacêutica, química, cosmética e até mesmo petróleo e gás. Sendo assim, o fengicina é um exemplo de biossurfactante que exerce a mesma função de um surfactante sintético, porém, de forma biodegradável e menos tóxica, podendo ser utilizado como um substituto sustentável para esses surfactantes.
Para que serve o fengicina?
Além do fengicina desempenhar o papel de combater fungos, também conta com a função surfactante, que consiste em diminuir a tensão superficial entre dois líquidos, sendo um insolúvel, propiciando a emulsão desses dois líquidos, ou seja, permitindo que eles se misturem.
Diversas pesquisas estão sendo feitas para identificar os possíveis usos do fengicina, dentre eles, alguns que já apresentam resultados e demonstram grande potencial na utilização. Um ótimo exemplo é na indústria alimentícia: o fengicina tem desempenhado um importante papel como conservante natural e sustentável, devido à sua função antifúngica, inibindo o surgimento e desenvolvimento desses microrganismos.
A produção
Como foi dito anteriormente, há vários tipos de Bacillus, com várias combinações de lipopeptídeos. Para produzi-lo, é necessário um processo complexo, que é composto pelas seguintes etapas:
Cultivo do Bacillus: feito em um ambiente propício para o desenvolvimento pleno do fengicina;
Extração do fengicina: logo após o desenvolvimento pleno do Bacillus, se faz a extração do fengicina, por meio do uso de solventes orgânicos;
Purificação do fengicina: por fim, são removidas as impurezas e demais moléculas que restaram no processo de extração, por meio de cromatografia ou precipitação.
Valor
As diversas aplicações e a sustentabilidade que advém delas fazem com que o fengicina tenha um grande potencial econômico. Como consequência da complexidade de sua produção, o valor monetário deste produto é bastante elevado. Segundo Aleksander Muniz (2022), em março de 2022, 1g de fengicina custava cerca de US$ 1.373,40, o que representava cerca de 21x o valor da grama do ouro, que é um ativo de alto valor e que era cotado em US$ 64,70 no mesmo período.
Conclusão
Levando em consideração esses aspectos, são notórias as possibilidades que são geradas quando se trata da exploração econômica do fengicina, pois mostra-se ser um produto em potencial na bioeconomia, que possibilita uma significativa redução no impacto ambiental a partir da substituição de um surfactante sintético, por este biossurfactante. Entretanto, ainda é necessário fomentar pesquisas e a divulgação das potencialidades do fengicina, pois há poucos estudos sobre o tema e ainda há muito potencial a ser explorado.
Autores:
Adriel Nogueira de Queiroz, acadêmico de Ciências Econômicas da UFAM.
Sabrina Carvalho Melo, acadêmica de Ciências Econômicas da UFAM.
Editora Assistente e Revisora:
Marian de Assis Andrade, acadêmica de Ciências Econômicas da UEA.
Sob supervisão do economista:
Dr. Max Fortunato Cohen, Conselheiro do CORECON-AM, Registro 1.218.